Marcos Antônio de Gois Nogueira é jornalista e trabalhou em diversos veículos de comunicação do estado da Paraíba a exemplo do Correio da Paraíba, A União, O Norte, A Tribuna, O Momento e O Sertão. Foi chefe de redação em diversos deles. Foi acadêmico de medicina e deixou o curso poucos períodos antes da conclusão.
O jornalista é o entrevistado do nosso blog neste domingo:
Quem é Marcos Nogueira.
Marcos Nogueira é um homem perseguido por uma criança, a que foi um dia, que ainda busca um mundo de paz e de fraternidade, e por fantasmas, que chegam à noite, há muitas noites!
Esta semana, a justiça federal condenou a União, por danos morais, e anistiou o Sr. Qual a sensação, depois de tantos anos?
Algo que ansiava e que era uma de minhas razões de viver, como diria Samuel Wainer, fundador do jornal A Última Hora. É o título de um livro seu: Minha Razão de Viver. É que a vida é uma sucessão de passos e atitudes, em busca do que ainda interrogamos. Estou feliz!
Baseado em quais fatos, o Sr. Foi preso?
Foi algo basicamente político, aproveitando-se, alguns dessa área, desse instante de agitação, fazendo com que qualquer "aceno" pudesse significar um "pavio" a ser aceso contra o regime militar. E, cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Acontece que houve um minúsculo movimento contrário aos militares e nós "embarcamos" nessa onda, sendo presos e levados para o presídio do Roger, em João Pessoa.
Chegou a ser torturado?
Sim. Houve tortura física e psicológica. A segunda doeu mais. Aliás, continua doendo.
Até que ponto esse acontecimento prejudicou sua vida profissional, acadêmica e pessoal?
Até os limites do basta. Perdi minha faculdade, meus amigos e colegas afastaram-se de mim e eu não os censurei, haja vista o risco permanente que representávamos, pois éramos considerados subversivos, comunistas, o verdadeiro mal e tudo de ruim que se possa imaginar. Assim era a visão de nós, presos naquele fatídico dia 13 de setembro de 1969, embora já tivéssemos sido presos no dia 11 do mesmo mês, jogados num cubículo mal cheiroso, junto com a chamada escória da sociedade, os chamados bandidos, ladrões, assassinos e toda sorte de gente do mal. Mas nem tanto, pois muito piores foram os que nos fizeram pagar por um crime que não havíamos praticado.
O sr. culparia o Regime Militar por toda essa confusão e conflito?
Sim, no que se refere aos que nele se infiltraram, para tirar proveito e para perseguir homens e mulheres de bem, apenas por questões políticas ou ideológicas; os presos "comunistas" de Patos, somos um exemplo dessas injustiças.
Não, em relação ao que o exército fez de bom, enquanto esteve no poder. Foram estradas, faculdades, hospitais, escolas, agricultura, etc. Valendo salientar que nenhum dos presidentes saiu com dinheiro, enquanto a nação respirava esperança. E as esquerdas daquela época são os Lulas da atualidade. Lula e companhia. Aí, que se tirem as conclusões.
O valor monetário que a União terá que lhe indenizar, compensa todo esse desgaste?
Não, dinheiro nenhum pode resgatar um digno passado. Podemos sorrir, como sorri o palhaço de padre Antônio Tomás, mas sempre haverá, no nosso íntimo, esse sentimento de revolta. Confesso, cheguei a pensar num fim total; não tinha ânimo para continuar a jornada. Tanto é que consegui concluir o quinto ano de medicina, mas tranquei matrícula, para nunca mais voltar. Muitas pessoas censuraram minha atitude; muitas pessoas não sabiam o que me levou a tal atitude!
Por fim, que lição o Sr, tira disso tudo?
Basicamente, se fosse para refazer o que fiz, conscientemente, eu faria. Não aconselho ninguém ao mesmo, isso porque é necessário renúncia e haveria o risco do sofrer. Eu me alio a Francisco Otaviano, quando diz que para se ser verdadeiramente homem, é fundamental se sentir o sofrimento, a dor, sem que sejamos masoquistas.
A entrevista do jornalista Marcos Nogueira foi concedida ao Jornalista Marcelo Negreiros em julho de 2020.
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